Dois significantes, vários significados: o que é ser cristão e o que é a política?
Duas palavras que são muito utilizadas, de muitas maneiras, na grande parte das vezes de forma equivocada, distorcida e logo irresponsável. Este pequeno texto não é uma crítica pois tem a intenção de convidar à reflexão e à ação decorrente desta. Não pode ser lido como uma crítica a qualquer tradição, ritos, vestimentas, signos, pois essas têm importância em diversos contextos, entretanto, aqui, chamamos a atenção de como é simples e ao mesmo tempo como exige ter muita coragem, ser cristão.
Simples pois o que se pede de todo o cristão é amar, e todos somos capazes de amar. Coragem, pois amar exige abrir o coração, arriscar-se, envolver-se, diferente do ódio que decorre do medo, da covardia, do fechamento à alteridade. A amor é um sentimento que contagia, nos toma, logo o amor não pode ser seletivo, como falsos cristãos querem afirmar: não é possível amar e odiar ao mesmo tempo, pois o amor de que fala o cristianismo é condição do ser. Não estamos falando do amor paixão, amor romântico, mas do amor enquanto condição do ser, que nos impede, portanto, de fazer mal à vida. Quem ama não mata, não tortura, não humilha, não defende ou pratica a violência, deste amor à vida é de que fala e pratica Jesus.
Logo, a partir desta verdade, todos podem ser cristãos, desde que sejam capazes de viver com amor, não importando vestimentas, cultos, signos, rituais, poderíamos dizer mesmo, que todas as pessoas, não importando a cultura, a religião, a nacionalidade, a vestimenta, os rituais, todas as pessoas podem ser também cristãos, sem exclusividade, desde que o amor seja uma condição de seu ser.
Da mesma forma, mas em um movimento contrário, as pessoas, mesmo seguindo ritos; usando vestimentas; gritando sua condição de cristão; participando de cultos, se não forem capazes de viver com amor, não são cristãos.
Dessa forma, um cristão na política não defenderá ou praticará a violência, física, moral ou simbólica. Um político cristão não defenderá a exclusão, a perda de direitos, não realizará discursos de ódio, racistas, homofóbicos, machistas, fascistas, uma vez que não há espaço para a exclusão, humilhação e violência em uma vida com amor. Foi apenas tudo isto, tão simples e tão corajoso, que nos foi ensinado para sermos cristãos. Não é difícil identificar o amor, mas o mal é mentiroso, sorrateiro, enganador e está cada vez mais se revelando, sem nenhum constrangimento.
É nesse sentido universal do amor que o político cristão atua. Nesse sentido podemos interpretar São Paulo: “Não há mais judeu nem grego, não há mais escravo nem livre, não há mais homem nem mulher”. Não pode haver mais o machismo, racismo, homofobia, nacionalismos, deve haver vida em abundância e logo, com dignidade, com saúde pública, educação pública, moradia, transporte público, dignidade no trabalho e com todas as possibilidades materiais para a realização de todas as pessoas como seres livres e amorosos.
José Luiz Quadros de Magalhães
Presidente da Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz de Belo Horizonte